hoje quero falar desse livro... um dos três de joão anzanello carrascoza, que um amigo muito querido me emprestou no início desse mês de maio.
os três livros, literalmente devorei, um atrás do outro...(aquela água toda,dos 7 aos 40 e caderno de um ausente, todos objetos de arte primorosamente editados pela cosac naify).
não conhecia até então o autor,os três livros são lindos, acolhedores e tristes e a sensação que me deu, é que são todos peças embaralhadas de uma mesma estória e acessos diferentes ao mais fundo do autor, tanto que fiquei intrigada se se tratariam realmente de ficção.ele nos conta suas estórias em primeira pessoa, tão palpável, tão familiar e verossímil,(prá mim pelo menos que também tive uma infância no interior de são paulo e sou pouco mais jovem que ele)que é como se eu estivesse compartilhando casos e confidencias contadas por um amigo íntimo.
aquela água toda, reúne vários contos, todos envoltos em lembranças reminiscências, alegrias e dores da infância e adolescência e da vida familiar numa cidadezinha do interior. o recheio do livro, é uma preciosa coleção de ilustrações da artista leya mira brander.
as imagens são impressas frente e verso num papel quase transparente,onde os desenhos se sobrepõe página a página, construindo outras imagens, e, como no texto, imagens passadas e futuras se imprimem no presente modificando-o, atualizando-o mas nunca deixando a melancolia do que não está lá...
por isso, não consigo mesmo, ver texto e ilustração como algo separado nesse livro e senti falta de ver o nome da leya na capa como co-autora.
uma das coisas mais lindas que vi na bienal de 2008 foi o espaço da leya, (a famosa bienal do vazio, que considero, apesar de sua impopularidade e de questões controversas que rondaram o evento, uma das melhores e mais bem elaboradas bienais de são paulo).eram vitrines horizontais onde se podia observar com tempo, tranquilidade e minucia as diversas camadas de suas gravuras. eram organizações, arranjos e rearranjos, agrupamentos e sobreposições de matrizes imagens e sentidos. era como se ela entregasse ali prá quem quer que se aproximasse algo de uma intimidade muito profunda, mas não escancarada, pois acredito que muita gente que passou por aquela bienal nem viu esse trabalho, era como se aquelas singelas vitrines dentro de todo aquele espaço, te chamassem para a concentração, para a meditação, para um silêncio interno... essa mesma entrega senti no livro, como se ela também mergulhasse em toda aquela mesma água e cúmplice, usasse suas próprias camadas prá adensar ainda mais a melancolia e beleza do texto.
gostaria de mostrar aqui todas as imagens do livro, porque fica bem difícil escolher só algumas, mas se faço isso,deixarei um prazer a menos prá você que se sentiu tentado a explorar esse objeto pela primeira vez e degustar o seu presente.em compensação, de entrada deixo aqui o link do blog dela.
...prá finalizar,acho mesmo uma pena deixar esse livro numa estante. se o livro fosse meu, gostaria de colocá-lo aberto numa moldura de vidro e instalá-lo na parede, mas seria muito, muito importante mesmo, que a moldura se abrisse, prá que eu pudesse acessar a leitura no momento que desejasse e principalmente, virar a página e trocar a imagem conforme o estado da alma...
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